sexta-feira, 10 de abril de 2009

(nem tão)Diva no Divã

Pergunto-me toda hora o que estou fazendo aqui. Não me refiro (apenas) ao blog, mas na vida, sabe? Qual é a minha função/missão aqui na Terra? Será que meu destino é ser, para sempre, figurante da minha própria vida enquanto todo mundo esbraveja seus papéis de protagonista, antagonista e coadjuvante? Estou me convencendo de que a resposta seja: sim, Rafaela, você = fail!
Cabeça mal recortada no Photoshop foi encontrada por populares em lixão. DNA foi coletado para saber se o serviço de porco foi feito por Rafaela

Talvez eu tenha uma única missão que é ser a de ser exemplo de vida. Algo do tipo: aquela ali é a Rafaela, gente! Não sejam bonzinhos assim como ela foi, porque o mundo é cruel e ninguém quer saber se você é gente boa ou não. Aquela ali é a Rafaela, gente! Não façam como ela. Rafaela sempre procurou saber se seus amigos (se é que ela tenha tantos assim ou pelo menos um) estavam bem. Mas na verdade eles estavam tão ocupados sendo felizes que se esqueceram de que Rafaela, aquele ser egoísta e desprezível, não queria só ouvir sobre o sucesso alheio, mas queria contar alguma coisa para eles também. E ela tinha tanta coisa legal para contar, mas ninguém quis ouvir.

Aqui está uma foto da Rafaela. Olha, gente. Não ri não que é sacanagem (hahaha). Que Deus me perdoe, coitada, mas vocês acreditam que ela já foi pior do que isso? Dizem que ela foi considerada a menina mais feia da sala do pré a terceira série. Na quarta série, só não ganhou porque não teve eleição. Depois de alguns anos sem vencer, voltou a ser a mais feia da sétima série ao primeiro ano do ensino médio. Foi a última vez. Nunca mais foi eleita a mais feia da sala (por mais que merecesse). Também, por motivos óbvios, nunca ouviu em sua vida inteira, elogios a sua beleza, a não ser de seus pais e dos borracheiros. Também, com aquele cabelo, não conseguiria arrancar elogio nem de cego.

Não amem como Rafaela amou. Aquele amor sabe? Incondicional, sempre destinado às pessoas erradas. Quem ama demais acaba que nem a Rafaela. Hoje ela tem 45 anos, nunca teve um namorado sério, mas se diz completamente feliz rodeada dos seus 6 sobrinhos. É mentira. Ela gosta deles, claro. Mas não tem uma noite em que ela não chore, lamentando-se por não ter conseguido fazer com que sua vida fosse diferente daquilo. E como ela não tem filhos, Rafaela, quando morrer (se for breve, melhor para todo mundo), vai deixar a herança para seus seis sobrinhos.

Rafaela não deixou muito dinheiro. Afinal, vender cd’s piratas com seu pai nunca foi uma atividade rentável. Mas foi o máximo que ela conseguiu fazer com seus dois cursos superiores, sabe? E o que a gente pode concluir disso? Jamais estude como Rafaela estudou. Jamais se esforce para ser a melhor aluna do colégio ou manter notas altas nas faculdades. Não dê valor aos elogios recebidos de seus colegas de faculdade e de trabalho ou seus professores. Rafaela foi muito (mas muito elogiada mesmo), acreditou neles e olha lá, morreu jovem, cinqüenta e poucos, sem filhos, completamente sozinha, sem profissão, sem um legado. Engasgada, gente! Morreu engasgada comendo biscoito Trakinas, a única coisa que a fazia feliz. Não tinha ninguém para ajudá-la (ela era sozinha, como disse) e morreu engasgada, com aquele cabelo horroroso de sempre, vestida com sua pior calcinha e de chinelos gastos. Sem glamour como só ela foi.

Não, não irei me matar – e se o fizesse, muita gente nem iria se importar. Não foi uma carta-despedida. Foi só um post- desabafo, depois de anos sem Divas no Divã aqui no Buteco. Por favor, sem lamentações. Já é tarde para isso. Time-out.